O desenvolvimento de um mercado regulado de crédito de carbono em âmbito global oferece oportunidades promissoras para empresas brasileiras. Na Live do <strong>Valor </strong> de sexta-feira, o presidente da Orizon Valorização de Resíduos, Milton Pilão, explicou que a aprovação do artigo 6.4 do Acordo de Paris, durante a COP26, aumentará enormemente a demanda e os preços por tonelada, favorecendo geradores de créditos como é o caso da companhia especializada na gestão e destinação de resíduos sólidos no país.
“Isso começa a permitir que exista uma matemática global, globaliza a conta de metano evitado no mundo”, disse Pilão na entrevista conduzida pelo repórter do <strong>Valor</strong> Gabriel Vasconcelos. A Orizon, que entre suas atividades também faz a captação certificada do metano emitido no lixo e evita que gás se espalhe pela atmosfera, vem reservando os créditos adquiridos para comercializar com preços mais altos no mercado regulado a partir do ano que vem, já que no mercado voluntário os preços praticados são bem menores.
“O mercado voluntário mundial opera num preço médio de U$ 5 por tonelada equivalente de carbono. O mercado regulado opera numa ordem de US$ 50 por tonelada de carbono equivalente”, pontuou o presidente da Orizon.
Isso acontece porque, no mercado regulado europeu, por exemplo, uma empresa que não puder mostrar aos órgãos competentes que é zero carbono acabará tomando multas e perderá incentivos.
“O preço vem subindo e vai continuar subindo por causa da lei da demanda e da oferta. Um ano e meio atrás, comercializava-se algo em torno de 70 milhões de toneladas em crédito por ano no mercado voluntário. Hoje, já saltou para 130 milhões de toneladas por ano e as projeções de Glasgow [COP 26], contabilizando o número de empresas que assinaram o acordo, é que salte, no pior cenário, para 700 milhões de toneladas por ano. No mais otimista, para 1,4 bilhão de toneladas por ano”, acrescentou.
Pilão explicou que, para participar do mecanismo, existe um processo complexo que é fundamental para dar a credibilidade necessária. Ele detalhou que a Organização das Nações Unidas (ONU) é quem vem exercendo o papel de “juiz” para que o mercado de crédito de carbono funcione. “Você aplica para a ONU, que qualifica, audita e permite a emissão de um certificado. Com isso, você vai a uma espécie de bolsa [de valores], onde há empresas que possuem o certificado, como nós, e outras que são altamente emissoras de gases poluentes e compram créditos para zerar a emissão que o processo produtivo dela gera”.
Pilão destacou que o potencial é enorme, ainda mais agora que os EUA, na era Biden, e mais de cem países aderiram ao acordo. “A demanda passará a ser gigantesca nessa conta de metano evitado”, celebrou.
Para o executivo, o Brasil terá a capacidade de ser protagonista nesse mercado não pela possibilidade de evitar as emissões de carbono com a preservação de florestas, mas também porque suas características exigem que o país desenvolva mais a chamada “agenda urbana” relacionada ao meio ambiente, que envolve a melhoria do saneamento básico e a destinação inteligente de resíduos, evitando também a proliferação do gás metano.
“O mercado de resíduos brasileiro está 30 anos atrasado em relação ao que se faz no mundo. É um negócio essencial para a população, pois o lixo é gerado 24 horas, 365 dias por ano, independentemente de crise política, sanitária. O lixo sempre está sendo gerado. É um negócio estável, perene, com largas avenidas de crescimento devido a essa possibilidade de valorização dos resíduos em tantas frentes”, defendeu Pilão.
O presidente da Orizon lembrou que o Brasil e outros países em desenvolvimento ainda destinam boa parte de seus resíduos a “lixões” a céu aberto, que emitem gases nocivos à população do entorno, uma questão que está resolvida em nações desenvolvidas, mas que precisa ser jogada à luz nas grandes conferências sobre o clima.
“Do mesmo jeito que existe a necessidade de se financiar a preservação das florestas, existe também a necessidade de financiamento internacional para o saneamento e os aterros sanitários”, comentou. “Quando falo da agenda urbana em comparação com a agenda florestal, não estou querendo diminuir a agenda florestal de jeito nenhum. Sabemos o desafio que temos para preservar as nossas florestas”, explicou. “Mas tem quase 3 mil lixões perto de comunidades [no Brasil] que estão gerando metano e carbono negro, que fazem mal à saúde e ao meio ambiente daquela região”, destacou, ressaltando que o metano é 32 vezes mais nocivo do que o CO2.
Fonte: Valor Econômico
Foto: Leo Pinheiro/Valor